quarta-feira, 6 de julho de 2011

Caminhando por Bissau

Como é a última semana em Bissau, resolvi aproveitar para conhecer os bairros do entorno de São Paulo.

Logo após o bairro onde estamos construindo a escola, há um grande descampado, paisagem típica de savana africana, com 3 árvores... Achei que seria uma ótima foto ir até a última delas, que da etsrada eu avistava bem pequenininha. Caminhei cerca de 4km até chegar a ela, passando pro bolanias e plantações de arroz.

No meio do caminho, alguns garotos começaram a se exibir montando no touro, e um deles muito curioso, resolveu me seguir após indagar "-Hey branku, nunde que bu na bai?(hey branco, onde você vai?)"


Conversei em crioulo com ele, e ensinei ele a tirar fotos. Chegamos na tal árvore e realmente valeu a pena, ótimas fotos.



Na volta, ele me mostrou onde era a casa dele, me explicou os diferentes tipos de plantas pelo caminho... Encontrei depois de um tempo de caminhada um homem que subia nas palmeiras para colher óleo de palma e deixar garrafas para fermentação do caju pro vinho.






Na estrada, recebi boléia de um homem que adorava brasileiros.



Desci perto do lixão para oferecer pães que eu tinha comprado pras pessoas que ali estavam. Duas mulheres e duas ccrianças estavam pegando garrafas para vender, e canecas de metal para tomar banho.



Conversei bastante com elas e elas me levaram até um bairro escondido, no meio do bosque, onde as casas são como nas tabankas do interior. Todos que passavam por mim faziam cara de estranheza, pois eu devia ser o primeiro estrangeiro a ir ali.



Caminhei mais um pouco, conversei com uma família onde tinha uma mãe dando banho na sua filha, o marido dela e seu sogro. Eles pediram uma foto de recordação e eu segui a caminhada.



Chegando no condomínio construído pelos chineses para os antigos combatentes, entrei para tentar conversar com um deles. Conheci o Cel Brandão e o General Marcelino, que me contaram várias histórias da guerra de independência de Guiné-Bissau, de como eles tomavam água junto aos elefantes e leões, as dificuldades que passaram por ter pouco armamento, e como eram orgulhosos de terem vencido.


 Expliquei que o Brasil não teve sua independência com uma guerra com os portugueses, muito devido a ser um país muito grande e na época não tinha uma grande unidade, e por causa disso o povo brasileiro se misturou e hoje éramos essa diversidade de raças. Já na Guiné, você vê claramente quem é estrangeiro e quem não é.
Eles ficaram de me mostrar fotos mas infelizmente ainda não tive tempo de ir no ministério da defesa.

Quando já era noite e após uns 12 km de caminhada, peguei um toka-toka rumo a embaixada, no qual conheci duas mulheres, uma delas tinha dois filhos, um deles com uma doença estranha no queixo, na qual a pele ficava descascando tanto a ponto de sangrar. Conheci também um guineense que estava com a camisa do Brasil, disse gostar muito de brasileiros e que torcia pra nós na copa do mundo e na copa américa...



Bom era isso, abraço a todos.



 
Condomínio dos antigos combatentes

terça-feira, 5 de julho de 2011

Um paraíso chamado Varela


Varela

 

Em nosso último fim de semana de descanso em Guiné-Bissau, resolvemos alugar um 7 place e ir para Varela, perto da fronteira com Senegal. 

Cabras na pista
Só a viagem já valeria a pena, pois saímos do centro do país e fomos até quase a fronteira a paisagem típica desta parte da África, estradas de terra, pessoas pelo caminho vendendo frutas e verduras, carregando galhos e bacias para trocar coisas nas tabankas(aldeiras) vizinhas, animais na pista, vários javalis, porcos, touros, vacas, esquilos e lagartos…




Casas de tabankas(aldeias) pelo caminho
Mulher carregando lenha



Feira
 
Como estamos na época de chuvas, a estrada em alguns trechos ficava muito complicada pra um carro baixo como o nosso. Resultado, atolamos três vezes na ida. Mas tudo bem, faz parte da aventura hehe. 



Ajudamos o Abdulai, motorista da trip a desatolar o carro e seguimos viagem. No meio do caminho há duas pontes muito bonitas e bem conservadas, uma delas considerada a ponte mais moderna da costa oeste da África.

Ponte Amílcar Cabral

 Porém a ponte que mais marcou foi uma com tábuas de madeira, onde é preciso descer do carro pra averiguar se as tábuas estão no lugar e o carro precisa passar sob trilhos.

Ponte do rio que cai hehe
 
 A pousada que ficamos era simples e aconchegante. O restaurante ficava num Bongolô, e os quartos eram espécies de cabanas. Tinha uma rede embaixo de um pé de manga, onde se podia deitar comendo uma fruta pega do pé na hora.



Descansamos um pouco e fomos para a praia. A pé seriam 45 minutos de caminhada por uma trilha, mas conseguimos ir de carro. Galera, que praia! De turistas tinha apenas nós devido a dificuldade em chegar lá, o que fazia a praia ser ainda mais interessante e virgem. A água morna e calma e a paisagem deslumbrante a colocam na praia mais linda que já conheci.


Após curtirmos um pouco o mar, fomos explorar as duas pontas da praia. Numa delas, encontramos pelo caminho vários touros e vacas, e na ponta uma grata surpresa. Várias lagoas naturais que desembocavam no mar, tal como alguns lugares no nosso Nordeste, e várias crianças curtindo o lugar. Conversamos um pouco com elas em crioulo e tiramos algumas fotos.

 



Algumas delas tinham medo de brancos e saíram correndo, ao passo que outras se assustaram com a brincadeira de um de nossos amigos, Ari, que encheu o rosto de lama(humus na realidade) e saiu correndo atrás delas hehe.

Na outra ponta da praia, várias ruínas bem antigas em estilo português, e uma vista esplêndida para o mar, ao lado de um bosque.

 

Caminhei um pouco no fim da tarde sozinho, comprei castanhas de caju de uma mulher, consegui tirar uma foto maravilhosa de outra com o filho nas costas batendo no pilão, e na volta da pousada ficamos jogando cartas até de madrugada.


No dia seguinte, Léo e eu abdicamos de mais um dia de praia para visitar Cacheu e cidades pelo caminho. É estranho comparar as cidades, pois se compararmos Bissau com nossas grandes capitais no Brasil, acharemos Bissau bem pouco desenvolvida… Mas ao compararmos Bissau com outras cidades pela Guiné, acharemos que trata-se de uma grande metrópole. Se compararmos as tabankas então, nem se fala.

O ponto alto da viagem foi aquele trecho onde atolamos três vezes no dia anterior. Ele estava muito mais crítico devido a chuva da madrugada, e ficamos atolados uma hora até passar um francês que morou no Brasil. Abdulai cortou o cinto de segurança do carro e o 4x4 do francês nos salvou.

Já dizia cap Nascimento: tava na cara...


 






 Então apareceram várias mulheres carregando filhos nas costas e bacias na cabeça, e insistindo muito para nos ajudar a lavar nossos chinelos completamente sujos de barro. Muito legal.

Leo e as mulheres lavando o chinelo


Freira peruana
O Abdulai segui todo o trecho crítico sozinho no carro para não pesar, então teríamos que andar cerca de 2km até o carro dele, depois da ponte capenga. Teríamos porque passou uma freira peruana que nos ofereceu boléia(carona) na parte de trás do Jipe dela. Momentos de pura adrenalina pois não tinha onde segurar direito, e a freira era deveras agressiva ao volante. Ela passou bem rápido pela tal ponte, mas por sorte deu tudo certo e não caímos no rio.


Cacheu é uma cidade pequena e pacata, que possui como pontos turísicos um forte que ainda guarda estátuas de figuras como o primeiro govenador da Guiné, e um porto, do qual saíram vários escravos com destino inclusive o Brasil.

Forte de Cacheu




Festival cultural











Demos a sorte de chegarmos bem no dia que estava acontecendo um festival cultural muito interessante. As crianças logo se aproximaram de nós curiosas, querendo que tirássemos fotos delas e querendo também fotografar. Joguei um pouco de futebol com elas, conversei com algumas pessoas e nos mandamos de volta a Bissau. No caminho passamos por dois Toka-Tchurs (já expliquei anteriormente, mas trata-se de uma cerimônia pra “tocar o choro”, realizada um tempo depois da morte de um ente querido).
Toka-Tchur
Bom,  esta foi uma das viagens mais legal que fiz aqui em Guiné-Bissau. Espero ter conseguido mostrar 10% da aventura que passei. Abraços.
 





Porto de Cacheu

Forte de Cacheu



Cena frequente no caminho para Varela

Lago com crocodilos em São Domingos

Cacheu
Varela